sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Silêncio Negro


Eu escrevo sem saber bem o que dizer. Na verdade, só escrevo mesmo por não ter muito a falar. O silêncio se tornou freqüente em minha vida. São coisas que tenho aprendido a conviver e tenho me saído bem. Tento compreender o motivo que me trouxe até aqui, mas desconsidero logo por dar muito trabalho e ando cansado demais. Tenho dormido muito também. É o refúgio pros pensamentos que não me deixam fazer outra coisa senão tentar fugir deles. Minha barba está grande e faz duas semanas que não saio de casa. Faz tempo que não vejo o sol, porque já tomei a atitude de lançar panos e cortinas em todas as frestas por onde ele poderia entrar. As janelas ficam sempre fechadas, de modo que no meu mundo é sempre noite. Não há estrelas, porém. Acabei me acostumando e hoje penso nelas apenas como pontos piegas que propiciam a melancolia dos namorados. Sinto falta apenas da minha sombra, ela era o retrato mais fiel que eu pude enxergar, porque o espelho não reflete no escuro, deixa ver apenas uma penumbra que não sei ao certo se é minha imaginação que monta a imagem. Tenho escutado vozes ultimamente, mas suponho que seja a do carteiro que sempre bate à porta tentando me entregar notícias do mundo que não é o meu. Não atendo e ele logo desiste.

Desanimo, porque tenho tentado ser louco, mas a loucura é distante demais.
Reconsidero, porque tenho tentado ser lúcido, mas a lucidez parece não me querer.

Vivo por fim, bem no meio do caminho entre a loucura e a lucidez, com as frestas sempre tapadas impedindo que o sol me toque, impedindo que o vento traga novidades pro meu mundo, pras minhas noites. Sem estrelas.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Like a Rolling Stone


O tempo, que jamais cessa as cobranças, traz consigo um sentimento traiçoeiro (escondido) de querer mascarar as faces tão feias do real. A navalha cega da ilusão abre espaços enferrujando a carne ainda trêmula, cheia de memórias que nunca envelhecem. O peito tímido se encolhe em cada esquina como se tentasse evitar a mais humilhante exposição de si mesmo, retraindo até as mais frias certezas do que realmente é. A verdade caolha, ainda enxerga e sente com dificuldade o óbvio peso sobre sua coluna tão frágil e, infeliz por não conseguir transformar o grito em melodia, apaga a luz do abajur e dorme sem sonhos.


O tempo é o vilão dos sentidos sobre a ribalta que só os heróis merecem. Afinando tambores para uma platéia alienada, ele sempre esquece quando acaba o carnaval e mantêm a máscara sobreposta a tudo que é capaz de tocar. Seguindo ladeira abaixo, sem acordes, sem tambores, assobiando velhas marchinhas que supõe alegrias infindas.