quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Prelúdio Cinza


Era uma menina e seus grandes olhos de esmeralda.
Chorando sempre sentada com o rosto entre aos joelhos.
Aquela menina transformava os hematomas em poesias.

Era um homem de mãos grandes e braços de foice.
Batia sempre sem pena, cabeça alta de vodka, coração abandonado.
Aquele homem transformava a perda em agressão.

Era uma mulher covarde e suas rugas talhadas.
Deixou pra trás o mundo de cacos, olhou sobre os ombros o homem pouco, a menina tanto.
Aquela mulher desconhecia o arrependimento cortante.

Os olhos de esmeralda cessaram as lágrimas.
Naquela noite não se permitiu escrever mais uma carta para a mulher covarde.
Colocou o pó fino na garrafa de água da geladeira, saiu de casa e dormiu na grama - sob a noite cinza - ao lado das orquídeas que levaria no dia seguinte.
Mais uma poesia que transformava. Mais um choro na morte dos segundos silenciosos.
Tinha o dom, aquela menina. Poesia nos olhos. Mãos cheirando a flores.

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